22 julho, 2012

Carregando a cruz

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Quem nunca viu uma cruz? A pergunta parece ser desnecessária, afinal estamos em um dos maiores países “cristãos” do mundo. Obviamente qualquer pessoa que enxergar terá visto não uma, mas centenas delas, seguramente, afinal, esse é o símbolo do Cristianismo.
Durante séculos a igreja oficial da história adotou a cruz como seu símbolo de um modo tão eficiente que hoje em dia poucos associam a fé cristã a outro símbolo usado pelos cristãos no princípio, o peixe. O Cristianismo fincou seu logotipo de um jeito que diretor de marketing nenhum poderia colocar defeito.

Hoje a cruz se encontra em milhares de cidades, vilas e aldeias espalhadas pelo mundo. Frequentemente está no topo e é a primeira coisa que se vê de longe. Nos cemitérios também é bastante fácil de achá-la. Está ali fora, na pedra, ou dentro, sobre a madeira do caixão, como que assinalando para esta vida e para além dela a suposta condição daquele ali sepultado. Não é à toa que para a maioria das pessoas a ideia de cruz venha acompanhada de um inconfundível cheiro de vela. Mesmo no mundo não cristão a cruz é uma marca de tremenda intensidade. Encontrar uma cruz em certos países, para um cristão, é como voltar para casa depois de atravessar o mundo.

Jesus, muito antes de ser crucificado, usava a cruz como ilustração em suas pregações. Ele disse Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me (1). Quando Jesus disse isto ele sabia que na mente das pessoas a cruz significava morte. Um tipo de morte invariavelmente lenta e muito sofrida, além de pública e vergonhosa. Jesus estava dizendo ali que segui-lo é negar-se a si mesmo, é renunciar-se a ponto de morrer. Em uma outra passagem temos ainda a expressão a cada dia(2), enfatizando que isso não era apenas um ato esporádico, mas sim a norma da vida de alguém que segue a Jesus.

Quando finalmente Jesus foi levantado em uma cruz, para ser morto à vista de todos, ele estava dando o exemplo final de uma vida de inteira renúncia a si mesmo(3). Jesus permitiu que a vontade de Deus se cumprisse em sua vida até o ponto de ser miseravelmente morto de um modo vergonhoso aos olhos dos homens. A vergonha da cruz era tão grande que hoje é difícil dimensioná-la. Para se ter uma idéia, a cultura islâmica, mesmo não tendo Jesus como Salvador, é incapaz de admitir sua crucificação, tamanha a humilhação de alguém da cruz.

Mesmo assim as cruzes continuam cada vez mais populares como adereços, nos pescoços, nas orelhas ou até nos umbigos da massa. É artigo da moda, que todo mundo carrega e continua preservando na tradição ou na arquitetura, embora cada vez menos alguém saiba o porquê.
Infelizmente, ao longo da história o exemplo de Jesus não foi tão copiado quanto o desenho da cruz tem sido. Nos dias de hoje a maioria das pessoas vive em busca de um estilo de vida cada vez mais egoísta, resistente a contrariedades e conflitos, cada vez mais centralizado na realização dos desejos e das vaidades individuais. Qualquer pessoa pensa várias vezes antes de ajudar alguém ou ceder em qualquer pequena discussão. Os cristãos são gratos pelo sacrifício de Jesus na cruz, mas têm se esquecido metodicamente do quanto levar a cruz é um princípio básico do Cristianismo.

Mas, é indispensável dizer que a cruz, no Cristianismo, está longe de significar derrota. Jesus transformou o significado mórbido da cruz em um marco da celebração da verdadeira vida. Paulo escreveu:
...e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome...(4) 
O sacrifício de Jesus foi tão perfeito que a própria morte não o pôde reter(5) e por isso Jesus ressuscitou(6). Jesus ressuscitou! E é por isso que faz sentido em se falar de cruz(7). É por isso que faz sentido carregar uma cruz. E nisto deveria crer todo aquele que ostenta “sua” cruz.

Hamilton Furtado



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