A história de Jesus é reputada em alguns círculos mais céticos como
um panfleto para vender uma ideia, ou uma imagem de um homem que sequer
existiu, ou se se existiu, não seria nem sombra do que disseram dele.
Uma análise dos fatos porém, dificilmente sustenta este tipo de opinião. Vejamos.
Jesus
nasceu judeu. Um povo periférico, de uma terra pequena, sem influência
política, com um histórico de sujeição a outros povos e, naquela
ocasião, submisso ao poderoso Império Romano.
Dentro dessa nação,
nasce Jesus, pobre, de aparência pouco notável, em uma vila também ela,
pobre e desprezível, de uma província deslocada do centro de interesses
religiosos.
No final da história, Jesus morre. Crucificado.
A
vergonha disso para a sociedade de então pode ser compreendida pela
repugnância e rejeição que os muçulmanos até hoje têm da simples ideia de
que Jesus teria sido crucificado. Para eles, nem mesmo a ideia da
ressurreição posterior remediaria o dano moral de uma morte dessas.
E
quando Jesus ressuscita, a notícia é dada por…mulheres!!! Algo tão
digno de crédito para época quanto discurso de político em véspera de
eleição. Realmente, se a história de Jesus fosse fabricada, ela
seria tão diferente, tão "certinha", tão enobrecedora, tão digna, tão
casada em suas diversas versões, que talvez convencesse muita gente…
A biografia de Jesus é recheada de "constrangimentos biográficos". Basta
pegarmos um dos evangelhos para vermos alguns desses "incômodos" na história de Jesus: sua origem humilde, sua amizade com
os "párias" da sociedade, a discrepância do seu perfil com aquele que a
totalidade dos judeus da época esperavam para um "messias", a
discordância aparente entre evangelhos, além de muitos outros
aspectos improváveis que, no entanto estão lá.
O próprio discurso
de Jesus, dizendo coisas com "eu sou humilde", "sem mim nada podeis
fazeis", contraria o que se espera de um "homem sábio típico". Suas
atitudes, igualmente, surpreendem aqueles que esperam a imagem
esterotipada do "homem iluminado". As respostas que ele dava, não para
os religiosos, mas para as pessoas comuns, tais como "estes são minha
família", quando foram dizer a ele que sua mãe e irmãos o esperava, ou a
aparente indiferença com que tratou a mulher siro-fenícia, não são
exatamente as atitudes idealizadas dos homens "bonzinhos-fazedores-de-média" que
vemos pelas religiões afora.
No entanto, tudo isso está lá,
cruamente registrado. Não há nos evangelhos a menor evidência de que
alguém tenha tentado "adoçar" a imagem de Jesus. Isso aconteceu,
sim, porém muito depois de escritos os evangelhos. Nas obras
renascentistas, que o pintam ora como um bebê, ora como um moribundo. Ou
nas narrativas vitorianas, tentando transformá-lo em bom moço e
trazê-lo para "dentro da respeitosa sociedade", como observa Philip
Yancey. Ou pior ainda, mais recentemente, com a mistura misticoleba de
idéias orientais ou humanistas, que tentam tranformar Jesus em um
simples cara "bom", um vendedor de auto-ajuda, ou um garoto propaganda
mais alinhavado com um escopo o maior possível de religiões.
Não, a história de Jesus tem "defeitos" demais para ter sido inventada.
(A
propósito, para quem acha que a história completa de Jesus é muito
fabulosa e preferir uma versão sem a 'pirotecnia' dos reis magos,
estrelas, e outros eventos estrondosos, é só conferir na própria Bíblia.
É a versão do evangelho de Marcos).
Hamilton Furtado
Publicado em Outramente
30 outubro, 2013
A crueza de uma propaganda "mal feita".
Postado por
Hamilton Furtado
......
às
08:41
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