09 maio, 2013

O perfume de Cristo

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menino cheirando espigas de trigo

Mal entramos no elevador e, pelo semblante das crianças, eu já sabia exatamente o que se passava na cabecinha dos dois.

Nos entreolhamos e, não demorou para um deles comentar o que todos já estavam pensando: a vizinha de um dos andares abaixo havia acabado de usar o elevador. Aquele perfume, forte e marcante, de uma maneira não propriamente elogiosa, era inconfundível e a associação com aquela pessoa, especificamente, algo inevitável.

Saímos no térreo e seguimos em direção às tarefas do nosso dia. Eu para o trabalho, eles para a escola.
Aquele episódio, no entanto, permaneceu durante um bom tempo apegado aos meus pensamentos, da mesma maneira que o perfume havia impregnado o espaço restrito do elevador muito tempo depois de sua dona ter saído dali. E eu comecei a refletir sobre o assunto.

É interessante como, a partir de um perfume, começamos a delinear um perfil de quem o usa e a fazer toda uma análise de como deve ser a pessoa que passou por lá. Se não gostarmos tanto assim daquele aroma, poderemos tender a ser igualmente rígidos em relação à nossa avaliação daquela pessoa. Não é difícil alguém chegar ao ponto até de, dependendo do ambiente, consider aquele rastro deixado ali uma conduta social inconveniente. Ou seja, o perfume corre o risco de se tornar uma “questão até de caráter”, ou, no mínimo, de educação. É claro que se, por outro lado, ao aspirarmos tal perfume, nossos sensores olfativos transmitirem ao nosso cérebro uma sensação agradável de satisfação, pode ser que nosso conceito sobre aquela pessoa igualmente seja alçado, por gratuita associação, a andares superiores de apreciação.

Isso tudo são impressões que talvez tenhamos por não conhecermos bem a pessoa. Mas, quando a conhecermos, teremos uma visão mais real de quem ela é e o tal perfume passará a ser menos importante por seu aroma e mais por ser uma referência a tudo o que aquela pessoa nos representa. De bom, ou de ruim.

A referência a um odor qualquer nos leva – através das curiosas peculiaridades de nossa memória olfativa – a lembranças de fatos, momentos, experiências, lugares ou pessoas, que imediatamente retornam vívidas em nossa mente, como se estivessem ali presentes naquele instante. É possível até, por conta de um cheiro que nos surpreende, nos recordarmos de coisas que nem lembrávamos mais que havíamos vivenciado.

Paulo, em uma de suas cartas, faz uma analogia comparando pessoas a perfume. Mais exatamente, ele estava dizendo aos coríntios, que na condição de discípulos de Jesus, eles eram o perfume – bom, aliás – de Cristo e, através desta fragância o conhecimento da pessoa dele estava sendo difundido ao redor.

 E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento.
Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.
(II Coríntios 2:14-15)


Assim como eles, o mesmo vale para nós, que também buscamos ser discípulos de Jesus Cristo e exemplos dele. O que nos leva à seguinte pergunta: que tipo de impressão temos deixado no ambiente em que estamos? Estamos difundindo a fragância do conhecimento de Jesus Cristo, ou será que fica algum outro tipo de cheiro? O rastro do odor que deixarmos permanecerá por muito tempo ainda depois de nos ausentarmos. A que tipo de lembrança ele irá remeter?

Hamilton Furtado